O “tempo fotográfico” é construído a partir do exato momento do click! Essa relação entre temporalidade e instantâneo fotográfico pode adquirir várias facetas dependendo do objeto fotografado e da subjetividade inerente às intenções do fotógrafo, logo, essa dimensão temporal pode ser tanto objetiva, delimitativa e historicista como subjetiva, conceitual e próprio reflexo da bagagem cultural do artista. Como bem elucida o texto é esse momento mágico da captura da imagem que pode vir a decidir se ela se comportará “como janela ou como espelho”, e quais serão os significados inerentes à sua estrutura formal e conceitual. É a hora em que o caráter dessa imagem é elucidado e exposto. Imediatamente após sua revelação ou digitalização a imagem começa a construir um discurso.
O texto também ressalta como a fotografia como se conhece hoje é resultado de muitos estudos que datam do século XIX, e como seus conceitos técnicos foram forjados nas entranhas da Revolução Industrial. Em 1888, com o advento da câmera portátil de Eastman o mundo nunca mais seria retratado de uma forma elitista, a fotografia se democratiza de forma decisiva e qualquer um que pudesse pagar 25 dólares poderia registrar o seu universo particular da forma que bem entendesse. Com esse breve apanhado histórico e tendo por base o texto “o tempo e os tempos na fotografia” que fundamenta as inter-relações entre fotografia–tempo–revolução Industrial seria possível confirmar que as obras escolhidas para análise podem vir a ser costuradas por um grande fio condutor que se baseia, entre outros aspectos, na fugacidade do tempo.
senão vejamos...
A fotografia de Legray é acima de tudo o aprisionamento de cena da natureza, que além da chapa fotográfica , só os olhos e a memória humana poderiam possivelmente guardar, logo, é intantânea conceitual e temporalmente falando.
A land art de Smithson também é passageira e momentânea no sentido que está exposta às intempéries diariamente, o que poderia vir a provar que o próprio tempo agiria como artista na remodelagem das pedras que a compõem, de forma aleatória e descompromissada. Fugaz mesmo.
Já o mobiliário de Gaetano Pesce tanto explora como pode demonstrar a efemeridade do tempo sob ponto de vista da sociedade capitalista, que prega que os bens de consumo devem ser concebidos já preconizando-se uma boa relação custo-benefício para assim gerarem os lucros almejados no menor espaço de tempo possível.
Em relação à pintura de Claude Monet da estação Saint-lazare esta também faz apologia ao “momento fugaz” , só que sob a estética do impressionismo. A fumaça, a luz, as pessoas, a estrutura metálica, tudo é volátil, parece que vai desaparecer sob uma bruma de manchas e tons a qualquer momento. A tela em questão é uma impressão daquilo que o artista registrou em sua mente naquele exato momento, como disse Gastaldoni, não foi o que “viu” , mas o que ele “sentiu”, a pintura não destaca o tempo cronológico como fator decisivo para a fruição de si mesma, mas como coadjuvante.
No filme de René Clair o tempo figuraria como espectador, ou como cenário?! E se prestaria a funcionar como base ou suporte para uma narrativa caótica e porque não dizer subversiva, tão ao gosto do dadaísmo.
Finalmente a escultura de Mira Schendel, por seu caráter efêmero (assim como o píer de Smithson) se ocuparia de delegar ao tempo o papel de escultor (junto com a audiência). O fato da escultura ter sido criada em papel (material efêmero por excelência) reforçaria ainda mais o caráter passivo, momentâneo e etéreo da obra.
Diante de todas essas relações seria possível concluir que as obras comentadas acima suscitam diferentes questões sobre as dimensões temporais que as envolvem e seria pertinente especular que nenhuma delas tem em sua relação com o tempo uma relação definitiva ou acabada. O fluxo de temporalidade entre essas obras e o espectador é contínuo e mutante, e depende acima de tudo dos referenciais significantes envolvidos.
texto produzido para a pós em Artes visuais cultura e criação SENAC
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